Qualquer parte do corpo é erotizável, não havendo uma zona específica. Certas partes do corpo, como os seios, tornam-se fontes de sensações e de excitação sexual, exatamente como acontece com os órgãos genitais. E isso não muda com a chegada da maternidade.

O seio de mulher, o seio de mãe, essa dupla representação dessa parte específica do corpo feminino ocupa um importante papel na vida da mulher, tanto na sexualidade adulta por ser uma das áreas erógenas e que participa ativamente dos jogos eróticos de um casal; como também por ser o produtor do alimento de um bebê.

Porém, com a maternidade, em algumas mulheres, existe uma dissociação muito marcante entre maternidade e sexualidade, destacada na imagem da mãe santa e assexuada que permeia as mais diversas culturas, com ícones como os quadros de virgens com bebês ao colo.

Considerando os termos da natureza, o ser humano é classificado como um animal mamífero e, portanto, as mamas das ‘fêmeas’ humanas têm uma função específica, ligada à alimentação do seu bebê. Mas o ser humano é um animal cultural, e no mundo da cultura, o seio feminino pode perder a grandiosidade biológica de sua função e tornar-se a base de diferentes representações como o erotismo.

O seio pode ser ou não erótico e ligado à sexualidade, segundo diferentes culturas. Conforme pesquisadores que estudaram as práticas sexuais em 190 diferentes culturas no mundo, somente 13 entre elas conferiam um valor erótico
aos seios, tendo seu aspecto físico um importante papel para a atração sexual masculina e sendo sua estimulação uma parte do ato sexual. Na cultura ocidental, o seio foi inscrito durante muito tempo em uma percepção funcional alimentar, sendo muito recente a erotização dessa parte do corpo feminino.

Do ponto de vista fisiológico, o seio é uma zona erógena que concentra uma quantidade de inervações sensoriais que provocam no organismo a excitação sexual preparatória para o ato sexual.

Essa característica do corpo se associa a uma representação cultural e psíquica que acompanha cada casal, família e sociedade como um fator importante que definirá o sucesso ou insucesso de uma amamentação.

Em função disso, muitas mulheres- com a chegada da maternidade- perdem seus desejos sexuais e outras caminham em direção ao desmame precoce, por não conseguir atribuir aos seios uma outra função que não seja a sexual.

As sensações sexuais que podem surgir em virtude do seio representar uma importante zona erógena, podem inibir a amamentação pelo desconforto moral que desencadearia. Por isso, muitas mulheres relatam problemas com a chegada da maternidade.

Entretanto, para alguns especialistas, algumas mulheres psiquicamente mais livres para o desempenho de suas funções maternas tendem a aceitar tais sensações e incorporá-las ao processo de lactação, e perfeitamente serem aceitas por seu psiquismo dando continuidade ao seu papel de mãe e de parceira sexual.

O crescimento dos seios da menina-mulher

Um dos primeiros sinais que marca a entrada da menina no mundo adulto é o crescimento dos botões mamilares, que anuncia o processo de tornar-se mulher.

O crescimento dos seios, em geral vem acompanhado da menarca, que consolida a identidade feminina nos aspectos físicos. No desenvolvimento psíquico, essa fase traz à tona uma série de conflitos que tumultuam o universo mental da menina, desde a estranheza de um corpo novo com diferentes estímulos e necessidades, ao mesmo tempo o efeito que sua nova imagem produz em seu meio social.

É uma experiência que mistura muitos afetos que incluem o medo pelo desconhecido e a dor do luto pela infância que fica para trás. Após esse período de novos olhares sobre a identidade da menina na qual o seio é o aliado mais significativo, percorre-se um período no qual o seio da mulher adulta é símbolo de sedução e sensualidade. Essa marca é tanto pessoal quanto compartilhada pelos olhares ao seu redor. Somente por ocasião de uma gestação é que se dá um novo olhar em sua relação com o seio, marcando nova etapa de vida e identidade social.

Para nossa cultura ocidental, o seio está associado ao atrativo erótico, dos mais importantes da vida sexual de um casal. As sensações no mamilo são fortes aliadas na excitação genital como na hora da amamentação. As terminações nervosas não mudam nas duas situações. O que muda é a representação psíquica que vai permitir que a mulher, com a chegada da maternidade e a amamentação, transforme as sensações de seu mamilo em um prazer de natureza diferente do erótico. Os afetos despertados pela maternidade tornam o contato de amamentar uma experiência de ternura e amor, mas também de doação e algumas vezes de dor.

Não é um mecanismo mental simples e só terá êxito se essa mulher teve um desenvolvimento psicoemocional satisfatório e poder contar com recursos mentais para auxiliá-la nos dois contextos.

A visão masculina sobre os seios

O ponto de vista masculino é complementar à essa dinâmica vivida pela mulher, e não menos complexa. Para ele, a marca inicial do seio está relacionada à sua vivência com a própria mãe, no início de sua existência, época da qual ele não tem os registros acessíveis em sua lembrança consciente, mas tem as memórias afetivas.

Essa experiência fica por um longo período ausente da vida do homem, sendo
substituída no início da adolescência em que o seio será admirado de uma forma sensual em sua vida pessoal e grupal.
O significado do seio, ante a paternidade, implica novos arranjos mentais que permitem que ele abra mão do seio erótico em favor da alimentação de seu filho ou filha, sem que com isso se perca o aspecto de sensualidade que vinha representando, para que se conserve o casal amoroso e não apenas o casal parental.

Alguns homens não conseguem ver a mulher como mãe e também parceira sexual porque a imagem da mulher com a maternidade fica associada à representação da mãe assexuada de sua infância.

Na relação entre a mãe e o bebê, muitas vezes o pai sente-se esquecido e sem lugar, o que complica toda a dinâmica familiar, incluindo a própria amamentação e às vezes o desempenho do papel de pai. Embora haja de fato uma forte vinculação mãe e bebê, a possibilidade de entrega plena da mulher e as condições psíquicas para viver a maternidade de forma saudável com seu bebê, vai depender também do quanto pode contar com o apoio do pai da criança.
O pai, por sua vez, só poderá oferecer essa sustentação se ele próprio não estiver excessivamente incomodado e impossibilitado de tolerar ser excluído da relação entre a mãe e bebê.

É comum os homens viverem grande ciúme dessa relação do filho ou filha com sua parceira, seja porque se sente excluído do prazer que percebe haver entre eles, seja porque precisa temporariamente abster-se da sexualidade genital do casal.

Entretanto, esse período também precisa terminar e o bebê necessita que sua mãe se afaste e volte para a relação do casal parental para dar espaço ao desenvolvimento psíquico do bebê, ainda que seja um período de dor e luto para a mãe. É um afastamento gradual que tem seu apogeu no desmame.

Se o homem não é capaz de ajudar a mulher nesse distanciamento numa espécie de interdição e reivindicação da mulher ao seu lado, a dupla mãe e bebê “se perde” numa vivência de estagnação que vai desgastando e cansando a todos.

MATERNIDADE: Como a amamentação pode impactar o lado psicológico da mulher

Toda essa organização psicológica da mulher será possível acontecer diante da compreensão dela sobre toda a sua história, vivências e memórias afetivas, e à sua atual vivência na relação com seu parceiro amoroso e a criança.

É fundamental para o aleitamento materno que a mulher possa ser capaz de diferenciar emocionalmente os dois tipos de estímulos em seus mamilos, sensual e maternal. Alguns dos impedimentos se dão em razão de a mulher associar a sucção do bebê à estimulação erótica tanto do contato da mucosa do bebê com o seio, quanto das contrações uterinas reflexas ao ato de sugar,
o que torna insuportável amamentar, pelo pensamento conflituoso entre a amamentação e erotização do seio.

Observa-se um conflito na identidade da mulher, que precisa integrar os papéis entre ser mulher e ser mãe. Entretanto, algumas delas não conseguem a integração dos dois aspectos e muitas vezes vivem apenas um deles em
detrimento do outro, reprimindo-o. Em alguns casais, essa dinâmica é compartilhada pelo homem, fazendo com que o casal não retome a vida sexual, adotando um papel maternal exagerado que deserotiza a relação. Ou quando a mulher não tem um casal constituído com o pai da criança, abandona sua vida sexual mantendo-se ancorada unicamente na relação com o filho, o que de certo modo, sobrecarrega a criança e dificulta seu desenvolvimento psicoemocional, repercutindo em outras áreas do desenvolvimento.

Mas, tão importante quanto ser capaz de viver e entregar-se à maternidade é poder conservar a sensualidade e o desejo.

Algumas mulheres ao se tornarem mães se encantam a tal ponto que aniquilam sua feminilidade sensual, adotando um papel exclusivamente maternal.

Essa é uma das causas frequentes de conflitos de casal e divórcios, além de ser uma atitude que sobrecarrega a criança e impede que ela possa estar livre psiquicamente para construir suas próprias relações sociais.

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Referências
Ciello. A. Mastectomia: Repercursões na Sexualidade da Mulher. Caxias do Sul. 2019.
Pereira. G.S. Amamentação e Sexualidade. Estudos Feministas.n11. p. 467-491.Florianopólis. 2003.
Sociedade Brasileira de Pediatria. Amamentação e Sexualidade.n.7.2018.