Sei que esse tema é muito difícil de ser conversado, e muitos pais evitam abordar esses assuntos pela delicadeza do assunto, porém abuso sexual e estupro são muito recorrentes e ainda poucos discutidos.

O registro do Portal de Cidadania do Governo Federal diz que em um ano são registradas cerca de 37 mil denúncias de abuso sexual com crianças e jovens entre 0 e 18 anos. Considerando, que mais da metade dos casos de abuso sexual não são denunciados, sabemos que esse número é muito maior.

Por isso, esse assunto precisa ser conversado!

Isso porque traumas sexuais marcam profundamente a psique de quem sofre, principalmente, quando as situações são veladas. Existem estudos que mostram que as crianças sofrem mais abusos ou violências sexuais de pessoas próximas do seu convívio, como tios, vizinhos ou primos mais velhos. A grande maioria são meninas e sofrem abuso sexual de homens mais velhos.


Naturalmente que não é exclusivo de meninas, e isso pode acontecer com meninos também, por isso, todo o cuidado é pouco.

Desta forma, diante de tantos indicadores alarmantes, seguem algumas sugestões para protegerem os seus filhos para esta realidade tão terrível.


1 – Converse com os seus filhos sobre abuso sexual


O primeiro passo para proteção contra violência sexual é conversar com os seus filhos sobre o assunto, explicando quais partes do seu corpo devem ser protegidas, quais tipos de toques são impróprios e quais cuidados eles devem tomar.
Atualmente é possível encontrar vídeos educativos que lidam sobre o abuso sexual de forma bem lúdica e leve, trazendo esse conhecimento para a criança.
Este canal de comunicação aberto e seguro é imprescindível para criar um laço de confiança e permitir que a criança converse sobre situações que acontecem na sua vida, e caso aconteça algo mais sério elas se sentirão à vontade para comunicar.

2 – Acompanhe as pessoas do convívio do seu filho


Segundo o Seminário “O problema é nosso” , realizado pelo TJ-RS, entre 85% a 90% dos casos de violência sexual aconteceram com pessoas conhecidas da vítima.


Isso é, pode ser um colega mais velho, um cuidador, até mesmo um parente. Então acompanhar a rotina do seu filho, ouvir se ele diz “não gostar de alguém” ou ter medo de alguns lugares, é importantíssimo para evitar expô-lo a situações de violência sexual.


Mesmo apesar da criança não ter os meus recursos de comunicação de um adulto, elas são muito transparentes e comunicam de forma aberta situações que gosta ou não.
Se algum parente distante vier passar um tempo na sua casa, preferencialmente, deixe suas crianças dormindo no seu quarto. Evite deixar os seus filhos dormirem no mesmo quarto que pessoas distantes.

3 – Ensine a criança a evitar contato com estranhos e ficar em lugares suspeitos


Esse item nós aprendemos desde cedo, mas nunca é demais falarmos novamente.
Pessoas de fora do convívio da criança, ou que a família não conheça também pode apresentar algum tipo de risco.
Apesar dos indicadores mostrarem que a maior parte das situações de abuso sexual acontecem em ambientes do convívio da criança, é sempre importante reforçar que eles não falem com estranhos e fiquem em lugares pouco movimentados ou escuros. Então esse zelo nunca é demais.

4 – Observe os comportamentos


As crianças sinalizam quando algo não está bem.
Os sinais mais comuns são: baixa do rendimento escolar, problemas de dormir, reclusão, problemas com a alimentação, marcas estranhas no corpo, infecções de urina de forma recorrente, comportamentos violentos, entre outros.
Se o seu filho é uma criança ativa, brincalhona e sem um “motivo aparente” passa a ser mais tímida ou apresenta alguns dos sinais acima, estimule a conversar com você sobre o que houve. Pode ser sinal que algo não está bem.

5 – Verifique os históricos dos lugares


Antes de inserir o seu filho numa atividade nova ou numa excursão, verifique antecipadamente o preparo do local para receber crianças e se há histórico de algum tipo de problema anterior.
Mesmo apesar de muitas vezes esses lugares serem conhecidos, as vezes podem ter situações veladas, que talvez um amigo, um vizinho, ou um parente possa compartilhar alguma vivência estranha ou diferente.

6 – Estimule o seu filho a se defender de um abuso sexual


Não existe um manual de como reagir em situações de perigo e cada pessoa tende a reagir de uma forma.
Explicar ao seu filho que em situações que se sentir indefeso ou se sentir em apuros ele pode pedir por ajuda e outras pessoas virão socorrê-lo.
É importante para ele se sentir seguro e se permitir se defender. Isso pode ser por telefone, ligando para autoridades ou recorrendo a adultos no local.

7 – Acredite no seu filho e tome alguma ação


Se o seu filho compartilhar que vivenciou algum tipo de violência sexual, ouça, acolha, acredite e tome as ações devidas.
As situações mais recomendadas para lidar nesse tipo de situação é denunciar aos órgãos oficiais competentes.
O silêncio e o segredo podem permitir que outras crianças vivenciem situações similares, além de causar traumas profundos.

Filmes que indico aos pais sobre abuso sexual:


Considerando este contexto, gostaria de te convidar para assistir dois filmes sobre o assunto.

O primeiro é “Spotlight”, que é baseado na história real de uma investigação que descobre violência sexual no ambiente religioso. Essa investigação foi iniciada por repórteres de um jornal que começaram a identificar histórias e situações estranhas entre garotos frequentadores da sua comunidade religiosa e mudanças de padres de comunidades.

Esse trabalho que eles fizeram foi responsável por trazer à luz o escândalo dos padres de 2007. Mesmo apesar de ser um documentário pesado, é muito bom e rico.

O segundo chama-se Jogo Perigoso, com uma performance de tirar o chapéu da atriz Carla Gugino. A história conta a vida de um casal que tenta apimentar a relação com o marido algemando a esposa na cama, e ele acaba tendo um infarto e falecendo.

A esposa algemada na cama, num lugar isolado e sem ninguém próximo começa a buscar os seus recursos internos para sair dessa situação adversa. Ao longo desse processo de autoconhecimento ela se lembra de uma situação vivenciada na infância muito séria. Claro que não darei Spoilers, mas é um filme muito bom.

O assunto é, sim, polêmico, mas merece sempre discussão de forma aberta e ampla.
Em nossa clínica, temos profissionais especializadas em sexualidade para conversar sobre o assunto com os pais ou crianças que tenham passado por qualquer tipo de abuso sexual.
Se sentir vontade de conversar, estamos à disposição!